A forma como nos colocamos no mundo está associada a como compreendemos e nos relacionamos com o outro. A princípio, nos estudos antropológicos, o “outro” era o culturalmente exótico e inusitado (indígenas, por exemplo!); com o tempo, essa perspectiva caminhou para uma visão mais ampla e menos estereotipada. O outro passou a ser percebido também em realidades mais próximas a nós, em nossa cidade, casa, trabalho e, como maior descoberta, dentro de “si”.
O outro faz parte de mim, então? Como sinto essa presença da “outridade” ou alteridade que também forma quem sou? Como me sinto ao lado de outra pessoa? O que esse convívio me traz, o que posso/quero cultivar nesse lugar de contato? Ainda: o que o outro me fala sobre o que valorizo, o que estranho, como vejo o mundo? E como é ver com os seus olhos? Vejo opaco? Turvo? Nítido? Essa investigação abre caminhos para desvendarmos pouco a pouco o que podemos desenvolver internamente a partir das relações.

Convivemos com outras pessoas em nossas casas, mas também com quem mal conhecemos, em diferentes níveis de intensidade. A cada ação, silêncio ou interação, imprimimos uma maneira de “estar aqui”. Como é, para cada uma/um, caminhar “com” uma outra pessoa e, também, com bilhões de outras? O que me possibilita e desafia a me sentir incluída (ouvida, considerada, acolhida) nessas interações (múltiplas!) e ao mesmo tempo a incluir outras pessoas em meus caminhos?
Fiquemos um pouco mais nessa pergunta: o que me possibilita e desafia a me sentir incluída nas interações e a incluir verdadeiramente outras pessoas em meus caminhos?
Aqui nessas linhas estão um tempo e um espaço para sentir/pensar sobre possíveis inclusões e o que elas podem nos trazer… talvez, lembrar que não precisamos estar exageradamente afastados ou insuportavelmente juntos. Mas o suficiente para assumir nossos tantos elos humanos.
Pois, todo ser humano tem uma voz que pede para ser sentida e compreendida. É preciso observar se e como sou capaz de escutar. No momento do contato, mesmo considerando nossos limites, talvez seja acessível um modo de vida menos excludente, que nos faça, a cada dia, encontrar os fios – tão firmes, tão frágeis, mas sempre substanciais – das possíveis expressões de compaixão que colocamos no mundo.